Stoa 19 / Sobre Paciência e Consistência
Na primeira edição da Stoa de 2024 trago palavras de sabedoria sobre a importância de permanecermos dentro do ônibus. 🚎
Meu conselho mais precioso — e também o mais difícil — é o de manter consistência em qualquer coisa que você se propõe a fazer. E para ser consistente é necessário ter paciência. Uma pessoa impaciente só conseguirá manter consistência em ser inconsistente. Se você deseja uma evolução contínua, então paciência e consistência são as chaves que você procura.
Para ilustrar esse conceito, trago aqui uma parábola do fotógrafo finlandês-americano Arno Minkkinen sobre a estação de ônibus de Helsinque que vi no livro “Quatro Mil Semanas” do autor Oliver Burkeman.
Lá há duas dúzias de plataformas, ele explica, com várias linhas de ônibus diferentes partindo de cada uma — e na primeira parte da viagem cada ônibus que sai de qualquer determinada plataforma faz o mesmo percurso pela cidade que fazem todos os outros, realizando paradas idênticas. Pense em cada parada como representando um ano de sua carreira, sugere Minkkinen a seus alunos de fotografia. Você toma uma direção artística — talvez comece trabalhando em estudos de nus — e passa a acumular uma carteira de trabalho. Três anos (ou paradas de ônibus) depois, você a apresenta, orgulhoso, ao dono de uma galeria de arte. Mas fica consternado ao ouvir que suas fotos não são tão originais quanto você pensava, porque parecem imitações da obra do fotógrafo Irving Penn: o ônibus de Penn, assim se revela, esteve na mesma rota que o seu. Aborrecido consigo mesmo por ter desperdiçado três anos seguindo o caminho de outra pessoa, você salta desse ônibus, chama um táxi e volta para o lugar de onde partiu na estação de ônibus. Dessa vez, embarca num ônibus diferente, escolhendo outro gênero de fotografia no qual se especializar. Mas algumas paradas mais tarde, acontece a mesma coisa: você é informado de que seu novo tema de trabalho também é derivado de outro. De volta à estação de ônibus. Mas o modelo se repete: nada do que você produz é reconhecido como sendo verdadeiramente, e somente, seu.
Qual é a solução? “É simples”, diz Minkkinen. “Fique no ônibus. Fique na porra do ônibus.” Um pouco mais adiante em suas viagens pela cidade, as rotas dos ônibus de Helsinque divergem indo cada um a seu destino único através do subúrbios e para a zona rural além deles. É ai que começa o trabalho distintivo. Mas ele só começa para aqueles que conseguem reunir paciência para imergir na primeira etapa — a fase de tentativa e erro, de copiar os outros, aprendendo novas competências e acumulando experiência.
Estendendo um pouco mais essa parábola do ônibus, quando descemos na parada errada — geralmente por desatenção ou falta de planejamento — precisaremos caminhar o restante do trajeto a pé. Eventualmente chegaremos ao nosso destino final, mas estaremos exaustos, com muitas dores nos pés e atrasados para o nosso compromisso.
Com carinho, Willian Matiola. 🚎
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E para fechar a Stoa de hoje, fique com a música Your Man do Josh Turner, que possui uma das vozes graves mais bonitas que já ouvi.
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Até a próxima! 👋🏻
Muito bom o texto!
adorei a parábola! feliz ano novo mano!