Stoa 53 / Ego & Design
Um sentimento que, segundo dados da minha cabeça, afeta 9 em cada 10 designers.

Antes de você pular para o conteúdo, confira o que rolou na minha vida desde a última edição da Stoa:
Criei um grupo secreto que só as pessoas que acham o acesso lá no Componentes Design participam.
Comecei a ler um livro chamado “Insanely Simple - The Observation That Drives Apple's Success” escrito por Ken Segall, que trabalhou por 12 anos nas campanhas de marketing da Apple.
Acabei virando design lead de um projeto na Cactus porque o diretor responsável teve que sair por razões pessoais.
Dei de presente para minha parceira uma serra circular que vai ser bem útil para projetinhos de marcenaria.
Você já trabalhou com alguém que acha que entende tudo sobre design e que sua opinião é a única que importa? Aquela pessoa que acredita que tudo o que cria é intocável e que qualquer sugestão de mudança é um ataque pessoal? Pois é. No design, isso acontece o tempo todo.
O ego, apesar de ser uma palavra pequena, tem um impacto enorme nas relações interpessoais. E convenhamos, ninguém gosta de lidar com designers que se acham os melhores do mundo e tratam os outros como inferiores.
Infelizmente, falo tudo isso por experiência própria.
Por ter entrado na área muito cedo e ter ganho reconhecimento na comunidade de design desde meus 16 anos por conta do Choco La Design – um dos maiores blogs entre 2010 e 2015 – comecei a nutrir um sentimento de ser melhor do que os outros e mais adiantado que a maioria. Embora essa ilusão tenha caído por terra a medida que fui amadurecendo enquanto pessoa e profissional, algumas pessoas ainda possuem uma imagem negativa sobre mim por conta desse meu passado.
Mas por que os designers têm essa fama de egocêntricos? A resposta curta: falta de autoconhecimento. A resposta longa? Bem, é sobre isso que vamos falar agora.
O gênio incompreendido
As vezes a pessoa cria uma autoimagem que não reflete muito bem a realidade. Todos, exceto ela, estão errados ou não sabem fazer o trabalho direito. É um gênio navegando em um mar em que ninguém sabe a direção certa, exceto ele.
E embora a pessoa talvez seja realmente boa em suas criações, isso não significa que ela mereça um tratamento diferenciado por conta disso.
Entendo que pessoas muito boas possuem quase uma obrigação moral de ajudar os demais a serem tão boas quanto ela. Pois, de nada adianta saber fazer tudo e não compartilhar nada. Afinal, quando você morre, todo seu conhecimento vai com você e ao deixar de compartilhá-lo com os outros o mundo perde a chance de evoluir um pouco mais.
Apego as criações
Apego é um combustível para o ego.
Uma pessoa apegada em suas próprias criações não admite que ninguém mexa ou tente melhorar o que foi criado. Se fechando, assim, a possibilidade de aprender algo novo ou conhecer novos caminhos.
Se você se apega demais ao seu próprio trabalho, talvez ainda não tenha compreendido o verdadeiro propósito do design. Se seu trabalho é feito para os outros, então ele não pode ser sobre você. Quanto mais cedo você entender que design não é um projeto de ego, menos frustrante será ouvir opiniões diferentes.
Entre ficar chateado com um feedback e usá-lo para evoluir, sempre escolha a segunda opção.
Ego em times
Trabalhar em equipe significa crescer junto. Dentro de um time de design, espera-se que todos possam dar e receber feedback de forma construtiva.
Se você se sente ofendido com um feedback sobre seu trabalho e leva para o lado pessoal, é sinal de amadurecer e entender que o mundo não gira em torno de você.
E usar a desculpa de “por isso eu gosto de trabalhar sozinho” também não é uma boa solução. É necessário aprender a colaborar se quiser ser um bom designer.
O sabotador
Uma das manifestações do ego pode aparecer em forma de sabotagem. Infelizmente existem pessoas que, além de não lidar bem com críticas, acabam sabotando seus pares para garantir sua posição na empresa.
Uma vez, ao participar por 15 dias de um teste para uma vaga, trabalhei com uma pessoa que não sabia lidar muito bem com feedback mesmo ocupando uma posição de Senior na empresa. Em uma das nossas interações, sugeri uma maneira melhor de construir um componente em que ela estava trabalhando e a pessoa tirou um screenshot do item, deletou o editável e tentou descredibilizar a ideia em prol da sua impedindo que as outras pessoas do time pudessem inspecionar a minha sugestão.
O ego, aliado a insegurança, cria uma pessoa que nutre um intenso desejo de
sabotar qualquer um que ameace sua imagem de profissional superior.
Ego dos superiores
Algumas pessoas em cargos superiores acham que suas ideias são sempre as melhores e esperam que sejam seguidas sem questionamento. Quando alguém desafia suas visões, muitas vezes interpretam isso como um ataque à sua autoridade.
Não é raro um profissional ser demitido por simplesmente ir de encontro as ideias do seu chefe. Eu mesmo já passei por essa situação no passado e poucos meses depois recebi uma mensagem da pessoa admitindo que uma das minhas sugestões realmente era melhor.
Tem batalhas que não merecem ser travadas. Ou você aceita e segue a vida ou você arranja um lugar em que suas opiniões são levadas em consideração com maturidade.
O antídoto para o ego
Dentre todas as coisas que podemos fazer para destruir nossos impulsos egóicos, o desapego, na minha opinião, é um dos mais poderosos.
O desapego é, segundo Buda e toda a tradição budista, o que promove a libertação do sofrimento. Aceitar que as coisas são impermanentes (inclusive seu design que será substituído assim que uma nova tendência aparecer) é a melhor maneira de evitar o ego.
Desapegar dos seus designs e entender que eles são apenas uma pequena parte de um cenário muito maior é libertador.
Entender que o que você faz sempre está em evolução ajuda a aceitar sugestões e críticas que provavelmente vão te tornar até mesmo um profissional melhor.
Quantos cafés essa edição merece?
Se você gostou muito dessa edição e quiser me fazer feliz é só patrocinar um cafézinho pra mim aqui na Alemanha. Toda edição patrocinada eu faço questão de trazer uma foto e o nome dos bem feitores. ♥️
Merece:
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O que achei por aqui
Rabbit Hole é um chat que forma mind maps com suas pesquisas. Até agora é o melhor uso de interligência artificial que já vi.
Biblioteca Conafer tem vários pdfs bacanas para download.
Como escrever uma boa documentação de design.
Who is Guilty é uma história interativa de um designer e um desenvolvedor fazendo um website.
Certeiro! 🎯